A doença afeta 2% da população, mas ainda assim muitos acreditam que são somente manias
Todo mundo gosta de falar que possui algum tipo de TOC: “Não consigo ver livro desarrumado, preciso ajeitar. É tipo TOC!”, “Nossa é só eu voltar pra casa e já tenho que lavar a mão. Meu TOC não deixa, preciso ficar limpo!” são algumas das coisas que ouvimos por aí.
O transtorno obsessivo-compulsivo está longe de ser uma simples mania. A doença obriga seus portadores a realizarem compulsões — certos atos físicos ou mentais — destinados a aliviar a ansiedade e o incômodo causados por pensamentos de conteúdo desagradável que aparecem sem cessar na mente dos pacientes
“O pensamento ruim vem, gera um incômodo, e então o portador sente a necessidade de realizar algum tipo de comportamento, uma compulsão, um ritual, para se livrar dele”, explica Daniel Costa, psiquiatra do Projeto Transtornos do Espectro Obsessivo-Compulsivo (PROTOC), grupo de pesquisa e tratamento associado ao Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas, da Universidade de São Paulo (USP).
Acredita-se que 2% da população geral sofra desse mal. Os picos de incidência do TOC estão entre as crianças de período escolar e os jovens adultos, na faixa etária dos 18 e 20 anos. A disseminação de informação, portanto, é um dos pontos principais para a o tratamento da doença, que pode afetar crianças que, muitas vezes, não entendem que até mesmo seu cérebro é capaz de escravizá-las.
O conteúdo dessas obsessões, chamadas também de “pensamentos intrusivos”, varia amplamente. “Obsessões de agressão, como o medo de que alguém querido morra, receio de ter um impulso violento, de se ferir por não ser cuidadoso o suficientemente” são alguns dos exemplos dados por Costa.
Preocupações com contaminação ou sujeira, nojo excessivo, obsessões religiosas e sexuais, como temor de ter cometido incesto, de ser homossexual, de ter cometido pecado ou de blasfemar contra alguma ordem divina são outros casos típicos envolvidos nas fixações do portador do TOC.
Com a crescente tensão resultante desses pensamentos, as compulsões são a saída (provisória) encontrada pelos pacientes. “Pode ser tanto um comportamento observável como um ritual mental”, detalha Costa. Verificar se a porta está trancada, lavar-se por determinado número de vezes, repetir rezas, fazer contagens, redesenhar linhas, dar pulos, alinhar objetos, organizar roupas. Tudo pode ser um ritual, assim como tudo pode ser uma obsessão.
Como refém
Como nem um milhão de repetições consegue acabar por definitivo com as obsessões, as horas escoam. Com o tempo perdido para realizar os rituais, aqueles que sofrem com o TOC começam a desenvolver o que Costa chama de “fenômeno da esquiva”. “Isso é pouco estudado. A pessoa começa a evitar as situações relacionadas à obsessão dela justamente para evitar os rituais que precisaria realizar”, explica.
As consequências acabam sendo o isolamento e a paralisação. “O TOC é uma das condições mais incapacitantes existentes. A gente acha que não só os comportamentos aparentes dela contribuem para esse comprometimento funcional mas fenômenos como o da esquiva também são responsáveis”, diz Costa.
É por isso que ele alerta: “Sintoma obsessivo-compulsivo é amplamente disseminado na população, todo mundo já teve um pensamento intrusivo. Mas a regra é que para estabelecermos um diagnóstico psiquiátrico, é preciso ter um comprometimento funcional muito grande. Só dá para falar em transtorno quando o comprometimento funcional ou sofrimento subjetivo pessoal é evidente”.
Procure ajuda
O tratamento envolve duas linhas de ação: a medicamentosa — acompanhada exclusivamente por psiquiatras — e a psicoterapia. “O tratamento do TOC é feito com alguns antidepressivos, os inibidores seletivos da recaptura de cerotonina”, diz Costa. Esses remédios também são utilizados no tratamento da ansiedade, visto a proximidade que ela possui com o transtorno. A diferença, porém, é que o ansioso preocupa-se de forma exagerada com assuntos cotidianos, enquanto o obsessivo-compulsivo possui pensamentos dos quais não consegue livrar-se a menos que realize os rituais.
A doença porém, possui evolução crônica. O médico explica que os sintomas podem ser controlados e até mesmo desaparecerem por um tempo, mas voltam em algum momento da vida.
As causas ainda são desconhecidas. “Fatores genéticos estão implicados, isso não há dúvida. Parentes de primeiro grau com pessoas que possuem o transtorno são mais propensos a tê-lo. Não existe um gene específico, porém”, conta Costa. Pelo que observam os pesquisadores, fatores ambientais, como traumas e abusos, podem disparar os sintomas, mas não esses “gatilhos” ainda não foram confirmados em estudos.
Fonte: Eu, Psicóloga